Um texto publicado recentemente me chamou atenção para um estudo (Shahbazi e colaboradores, 2016) de extrema importância e relevância internacional, que foi publicado em uma das revistas científicas mais renomadas do mundo (grupo Nature) e estudou as fases de desenvolvimento de embriões desde o seu 1º até o 13º dia de vida. Estes embriões foram doados e, após o término dos experimentos, foram descartados.
Eu, como pró-vida e crente de que um embrião É uma vida humana, me comovi. Fiquei pensando em tantos embriões que são descartados como se fossem lixo, seja por terem sido utilizados em estudos, ou por abortos provocados, ou pelo uso de hormônios contraceptivos. Mas novamente, o que isso tem a ver comigo? E com você, mulher?
Antes de te responder isso, preciso contextualizar algumas coisas.
Após o ato sexual, o espermatozoide do homem fecunda (se funde com) o óvulo da mulher. Neste ponto, os vinte e três cromossomos do espermatozoide se juntam com os vinte e três cromossomos do óvulo, caracterizando a concepção. Assim se dá o início de uma nova vida humana, a formação de um indivíduo unicelular com quarenta e seis cromossomos e seu próprio DNA.
Este organismo unicelular é capaz de originar todas as células, tecidos e órgãos. Durante o período embrionário, a divisão celular se inicia formando a mórula, que atravessa a trompa de falópio e chega ao útero, onde se desenvolve até a fase denominada blastocisto, que se implanta no útero por volta do 7º dia. A implantação é um processo crítico, pois é através dela que o embrião encontrará todos os nutrientes necessários para a sua sobrevivência e desenvolvimento. Passados em torno de 28 dias, a diferenciação dos órgãos já é iniciada. O período fetal compreende a 9ª semana de gestação até o nascimento.
No que diz respeito aos estágios embrionários, é comum ouvirmos que o embrião não é uma pessoa. Por outro lado, é comum ouvirmos termos como “produto da concepção”, “óvulo fertilizado”, “zigoto” e outros, mas dificilmente o termo “ser humano”. Isto porque muitas fontes dizem não haver um consenso sobre quando a vida inicia e que, por isso, esse “produto da concepção” é visto simplesmente tal qual o termo, e não como uma nova vida humana.
Sabendo dessas etapas iniciais do desenvolvimento humano, ainda tem gente que se pergunta: quando a vida humana começa? A ciência responde claramente essa questão ao dizer que a vida humana começa na concepção. Mas esta resposta ainda não é capaz de convencer muita gente, inclusive pesquisadores, que continuam usando argumentos do tipo “aglomerado de células” para justificar que, dependendo do estágio da gravidez, o aborto deveria ser permitido.
E o que seria um “aglomerado de células”? A princípio, o termo parece sugerir que o embrião não tem vida própria, não tem controle próprio e autonomia, e age como um “parasita” que não sobreviveria fora do útero.
O estudo feito por Shahbazi e cols (2016), ao qual me referi acima, demonstrou que esse argumento é totalmente errôneo. Neste estudo, os pesquisadores utilizaram um aparato experimental que permitiu avaliar o desenvolvimento de embriões humanos, incluindo a transição da fase pré para a fase pós-implantação, sem utilizar qualquer tecido materno.
Para entender os processos que ocorrem antes e após a implantação do embrião no útero materno, os pesquisadores colocaram os embriões humanos em incubadoras contendo apenas nutrientes necessários para o seu desenvolvimento. Com uma série de experimentos, eles demonstraram que os blastocistos possuem uma capacidade de organização autônoma (independente da presença do útero materno), que nunca tinha sido demonstrada antes pela ciência. Estas células se organizam e se desenvolvem mesmo não estando implantadas no útero materno, e sem receber qualquer estímulo para tal.
Mas o quê isso significa? Significa que, desde o primeiro estágio de sua formação (concepção), esse organismo vivo está “programado” para viver e “sabe” o que precisa fazer. Ele “sabe” que deve se dividir e atravessar a trompa de falópio até chegar ao útero e tem suas próprias ferramentas para fazer tudo sozinho. No útero, ele precisa ser implantado, já que ali estão os nutrientes necessários para que ele sobreviva. Podemos até fazer uma comparação bastante simples: uma criança de 1 ano de idade também não é capaz de se alimentar sozinha, e precisa receber de alguém os nutrientes necessários para sobreviver e continuar se desenvolvendo. Nos experimentos realizados no referido estudo, os embriões estavam em incubadoras que acondicionavam nutrientes e, assim, eles puderam se desenvolver mesmo não estando dentro de um útero. É importante salientar que, por questões éticas, os experimentos foram interrompidos no 14º dia após a concepção e os embriões foram descartados.
Se os embriões foram capazes de se desenvolver apenas com nutrientes disponíveis na incubadora e na ausência do processo efetivo de implantação no útero, isso demonstra a autonomia do organismo embrionário desde a sua concepção, e este fato desconstrói a ideia difundida por muitos de que a gravidez começa na implantação. Além disso, levanta a questão do mecanismo de ação de muitos anticoncepcionais que atuam ao impedir o processo de implantação.
Essa informação tem uma dimensão muito maior do que se imagina (ou nem se imagina) nos dias de hoje. Esse tipo de informação aparece escrito nas entrelinhas das bulas. No entanto, a demonstração de autonomia do embrião é uma evidência concreta de que não apenas o embrião não é um simples aglomerado de células, como também pode ter sua vida interrompida com o uso de simples e corriqueiros anticoncepcionais.
Considerando o exposto, eu agora respondo: o que isso tudo tem a ver comigo e com você é: o uso dos anticoncepcionais. Talvez você já tenha se perguntado se estes medicamentos realmente fazem bem. Talvez você já tenha sofrido algum dos diversos efeitos colaterais que eles causam. Neste espaço, iremos falar um pouco sobre esse assunto, para que as mulheres se informem mais e melhor sobre o uso da pílula.
(Postado originalmente no site Modéstia e Pudor)