O livro Enfrentando a infertilidade: uma abordagem católica, de Jean Dimech-Juchniewicz, publicado pela editora Paulinas, traz um relato de quem passou pela infertilidade e testemunha de forma muito humana, sensível e com propriedade o sofrimento que viveu. O livro apresenta onze capítulos, além de quatro apêndices.

Os temas de cada capítulo mostram a complexidade dessa situação enfrentada por muitos casais, como a busca por tratamentos alinhados à fé católica, o aprender a lidar com a espera e as próprias expectativas, com as frustrações, com as expectativas dos familiares e amigos, a possibilidade da adoção, além de tantos sentimentos tão distintos que podem vir à tona, como a vergonha, a tristeza, a raiva, a culpa, o sentimento de pensar, em um primeiro momento, ter sido abandonado por Deus, entre outros. No início de cada capítulo, aparece o relato de uma mulher que passa ou passou pela infertilidade. A autora teve a sensibilidade e a perspicácia de, ao final de cada capítulo, colocar três seções bem singulares, quais sejam, “Questões para reflexão e discussão”, “Para amigos e familiares” (essa parte é dedicada àqueles que são próximos do casal que enfrenta a infertilidade) e “Oração” (Salmos selecionados do Ofício Divino da Oração Noturna).

Já nos quatro apêndices, constam “Orações para católicos que estejam enfrentando a infertilidade” (apêndice A); “Homens e mulheres bíblicos que enfrentaram a infertilidade” (apêndice B); “Santos padroeiros dos casais” (apêndice C) e, por fim, “Recursos adicionais” (apêndice D). Neste último, há a indicação de importantes documentos da Igreja sobre o tema, de revistas, artigos, sites, blogs católicos sobre infertilidade, sites sobre adoção, organizações atentas à fertilidade, entre outros.

Jean Dimech-Juchniewicz relata que a infertilidade tira dos casais diversas experiências e uma série de coisas, tais como “o senso de controle sobre o próprio corpo; a habilidade de planejar o futuro; a capacidade de conceber uma criança com quem amamos”, a experiência da paternidade e da maternidade, entre outras coisas.

Os testemunhos da autora e das outras mulheres que narram suas histórias nos mostram como a experiência da infertilidade é dolorosa, pesada, uma espera doída, uma subida ao Calvário junto com Jesus. Fala da complexa experiência vivida nos tratamentos para engravidar, de todos os sentimentos e emoções que vêm à tona nesse tempo, até o ponto de decidir parar e buscar a adoção. No livro, há mais de um relato de mulheres que, após desistirem dos tratamentos para conceber e já na espera pela adoção, engravidam de forma natural e sem qualquer tratamento. Deus tem seus planos e seus caminhos.

Sobre métodos e técnicas para tratar a infertilidade

Cabe mencionar que o livro traz um capítulo inteiro para apresentar os diversos métodos e técnicas usados para o tratamento da infertilidade. Mostra as principais opções médicas moralmente inaceitáveis, de acordo com a fé católica, como, por exemplo, a fertilização in vitro (FIV), que “sempre dissocia a procriação da união sexual dos esposos”. No procedimento da FIV não se busca reconhecer e tratar as possíveis causas da infertilidade; ao contrário, isso é ignorado. Ela consiste apenas na concepção artificial de vida humana através da fertilização de um óvulo da esposa (ou de uma doadora) pelo esperma do marido (ou de doador). Vale destacar o grave problema ético em relação aos embriões descartados e àqueles que são congelados. Estamos falando de vidas humanas, descartadas ou congeladas, é impossível fechar os olhos a essa situação. Existe ainda um grave problema ético em relação ao que fazer com os embriões congelados. Os países, em regra, não têm legislação a esse respeito. Ou seja, a fertilização in vitro é uma técnica de reprodução artificial de vida humana envolta em uma série de questões éticas e morais graves, que devem ser consideradas.

Sexualidade humana, um dom dado por Deus

Além disso, a autora dedica algumas páginas para falar sobre a beleza da sexualidade humana, um dom dado por Deus, e assim discorre:

Unidos em matrimônio, mais especialmente no ato de amor onde os dois tornam-se uma só carne, homens e mulheres refletem a própria imagem de Deus e seu amor pela humanidade. (…) Nossa fé católica nos ensina que o sexo é bom – de fato, o sexo é sagrado – e que ele permite a homens e mulheres chegarem a uma união de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo na Santíssima Trindade. Deus criou nossos corpos com uma finalidade esponsal, para se darem um ao outro em total liberdade e doação. Ao mesmo tempo que isso tem muito a ver com a união sexual, envolve uma completa comunhão de vida e amor (…). O sacramento se torna um veículo para Deus plantar seu amor ainda mais profundamente em nossa alma e nos santificar. Deus nos concedeu o dom da sexualidade para nos atrair para junto dele através um do outro. (…) Sexo, então, é de fundamental importância de acordo com a nossa fé católica. (…) Nossos corpos e almas estão intimamente conectados, tanto que o que fazemos com um afeta o outro. Por isso nossa vida sexual e nossa vivência de fé estão intimamente ligadas.

Além disso, ao mencionar o dom da sexualidade, a autora joga luz e chama a atenção para um tema tantas vezes entendido de forma equivocada ou confusa. Não raras vezes se fala e se divulga que a Igreja menospreza o sexo ou o enxerga como algo baixo ou sujo. Grande e grave equívoco. A Igreja, na verdade, ressalta a alta dignidade do sexo, sua beleza e seu caráter sagrado. O sexo foi pensado e querido por Deus para o bem dos cônjuges e para a geração de filhos, pela qual os esposos se tornam cocriadores com Deus no dom da vida a uma nova pessoa. É por meio da união dos cônjuges numa só carne que eles renovam sua aliança matrimonial com Deus. E, para melhor compreensão do assunto, a autora recomenda a leitura do livro Boas-novas sobre o sexo e o matrimônio, do teólogo norte-americano Christopher West.

Ainda sobre o dom da sexualidade, Jean Dimech-Juchniewicz relata que “o sexo comunica a permanente união da vida e do amor através da linguagem dos corpos. É um reflexo exterior dessa realidade interior”. Mais adiante, ela nos traz um excelente esclarecimento, ainda nesse sentido, o qual é transcrito a seguir:

Essas crenças profundas sobre matrimônio e a sexualidade não são muito populares na sociedade hodierna. Muitas pessoas pensam no sexo como uma atividade recreativa de satisfação física, completamente separada do casamento e de ter filhos. Elas consideram o sexo como um assunto privado, governado subjetivamente por opiniões pessoais e sentimentos. Num esforço desorientado de ‘liberar’ o sexo das amarras da virtude cristã e de alguma forma elevar seu valor fazendo-o socialmente aceitável para qualquer um – adulto, casado ou não etc. -, nossa sociedade na verdade reduziu o valor do sexo e o desumanizou por divorciá-lo da profunda significância pretendida por Deus. Isso causou estragos às mulheres, ao casamento, à instituição da família e ao valor que nossa sociedade dá à vida humana.

Um apelo do Papa Paulo VI, aos homens de ciência, na Encíclica Humanae Vitae, a Naprotecnologia

No título deste texto, disse que conversaríamos sobre a Naprotecnologia. O que é isso? Provavelmente, a maioria nunca ouviu esse termo. É com certeza uma esperança a tantos casais que lutam contra a infertilidade, uma opção de tratamento moralmente aceita e alinhada à fé católica. Ano passado eu ouvi, pela primeira vez, o termo “Naprotecnologia”. Não sabia do que se tratava e não me atentei muito ao tema. Meses depois, em um encontro com a presença de uma religiosa, membro da Pontifícia Academia para a Vida, ouvi novamente falar em Naprotecnologia. A palestrante, nesse momento, fez uma breve e esclarecedora explanação sobre o assunto. Fiquei fascinada e fui pesquisar a respeito, buscar conhecer, saber como funcionava. E foi justamente a Naprotecnologia que me chamou atenção para o livro Enfrentando a infertilidade. Uma abordagem católica, recentemente publicado. Como vi que o livro abordaria esse assunto, fui logo atrás para lê-lo. A seguir, apresento algumas breves explicações sobre esse tema.

A NaProTECHNOLOGY (Natural Procreative Technology) é uma ciência médica aplicada ao ciclo fértil da mulher. A Napro “representa um enorme avanço científico em ‘monitorar e manter a saúde reprodutiva e ginecológica da mulher’. Além de ser útil para tratar outras desordens ginecológicas, a NaProTechnology trabalha cooperativamente com o corpo da mulher”. Essa ciência médica reconhece e faz um diagnóstico das causas de infertilidade para, a partir daí, eliminá-las. Cabe ressaltar que a Napro é uma técnica totalmente alinhada à fé católica, mais barata e mais eficaz que os métodos de reprodução artificial. A Napro usa o Creighton Model System, método de paternidade e maternidade responsável, que ajuda a mulher a reconhecer seu ciclo menstrual, o que revela a saúde e a fertilidade da mulher. A partir do uso desse método, o casal é capaz de observar e rastrear vários marcadores biológicos que refletem o perfil hormonal da mulher e permitem reconhecer os dias de fertilidade e infertilidade, além de servir para monitorar a saúde ginecológica da mulher.

O Creighton Model System foi desenvolvido pelo doutor Thomas W. Hilgers, MD, um médico católico, na Universidade de Creighton, nos Estados Unidos. No início da carreira do doutor Hilgers, ainda como um jovem médico, ele foi profundamente tocado pelo apelo do Papa Paulo VI “Aos homens de ciência”, apelo este que consta da Encíclica Humane Vitae, a seguir transcrito:

Queremos agora exprimir o nosso encorajamento aos homens de ciência, os quais “podem dar um contributo grande para o bem do matrimônio e da família e para a paz das consciências, se se esforçarem por esclarecer mais profundamente, com estudos convergentes, as diversas condições favoráveis a uma honesta regulação da procriação humana”. É para desejar muito particularmente que, segundo os votos já expressos pelo nosso predecessor Pio XII, a ciência médica consiga fornecer uma base suficientemente segura para a regulação dos nascimentos, fundada na observância dos ritmos naturais. Assim, os homens de ciência, e de modo especial os cientistas católicos, contribuirão para demonstrar que, como a Igreja ensina, “não pode haver contradição verdadeira entre as leis divinas que regem a transmissão da vida e as que favorecem o amor conjugal autêntico”.

Assim, em 1985, o doutor Thomas Hilgers fundou um instituto médico dedicado ao estudo da reprodução humana: o Instituto Papa Paulo VI para o Estudo da Reprodução Humana. Esse instituto, reconhecido internacionalmente, oferece treinamento em Naprotecnologia aos médicos com o objetivo de investigar, avaliar e tratar as causas de infertilidade bem como os abortos espontâneos recorrentes. “As causas orgânicas ou funcionais da infertilidade podem ser diagnosticadas e tratadas de maneira relativamente fácil… Ao identificar e tratar as doenças subjacentes que causam a infertilidade, o Instituto aperfeiçoa a habilidade do corpo de trabalhar de maneira mais efetiva, em oposição à prática de ‘conduzir’ ou ‘forçar’ ou tentar ‘substituir’ o sistema reprodutor”.

“Aquilo que Deus quer para nós é muito mais belo do que tudo o que poderíamos pedir com a nossa imaginação.” (Serva de Deus Chiara Corbella Petrillo)

O casal que procura tratamentos para a infertilidade na esperança de ter filhos despende muita energia física e também emocional nessa busca, além de tempo e dinheiro. No entanto, tudo é compensado pela realização do sonho da maternidade e da paternidade, o poder gerar uma criança, ter o filho em seus braços… É necessário, porém, ter em mente que filho não é um direito, mas, sim, um dom de Deus. “Filhos são presentes a serem recebidos, não direitos a serem exigidos”. Por mais difícil que isso possa parecer, essa é a verdade. Os planos de Deus sempre são os melhores para nós. Matrimônio, maternidade ou paternidade são meios, e não fins, para nos aproximar de Deus, nos santificar e nos conduzir ao Céu. É imprescindível buscar, na oração e na intimidade com o Senhor, o discernimento, as forças e o consolo para entender que não se pode colocar o desejo pessoal acima da vontade de Deus, por mais difícil que seja. Deus tem um plano belo e original, autêntico, para a vida de cada um. E, pela graça de Deus, podemos viver os planos de Deus para nós, conforme Sua vontade, mesmo que isso requeira renúncia, sacrifício e união, oferta, de nosso sofrimento ao de Cristo na Cruz.

No entanto, vemos que a Naprotecnologia é uma técnica de reprodução natural que traz grande alento e pode renovar as esperanças de muitos casais de realizarem o sonho de serem pais, além de tratar e preservar a saúde da mulher.

Por fim, encerro com um trecho do livro em que a autora diz que Deus usou a infertilidade para transformá-la em uma pessoa melhor e se reconhece grata a Deus pelos frutos que “a cruz da infertilidade” trouxe a ela. Isso revela algo tão crucial e essencial a todos nós que é o fato de nos reconhecermos como filhos amados de Deus, sabermos e sentirmos que Deus nos ama. Essa consciência de que somos profundamente amados por Deus faz toda a diferença na medida em que vai refletir na forma como lidamos, enfrentamos e reagimos a situações difíceis, por vezes muito dolorosas, de frustração, de perda, de não termos nossos sonhos sempre satisfeitos, ou mesmo, o nosso maior sonho… E isso não é fácil! A consciência de saber que somos filhos amados de Deus, que Ele tem um plano para cada um de nós, o caminhar com Ele, sabendo que Ele tem o controle de tudo, confere nova perspectiva à forma como encaramos a vida e percorremos nosso caminho rumo ao Céu. Jean Dimech-Juchniewicz assim fala: “seja qual for o futuro que Deus tem em mente para nós, é melhor que qualquer coisa que possamos imaginar. Rumar para esse futuro com ele, dependendo dele para nos dizer qual o próximo passo, nos ensinará a confiar nele. Essa confiança tem tremendo valor e é o fruto mais importante que produzimos no deserto. De fato, a confiança radical em Deus e um abandono profundo de si à sua vontade é o único caminho para fora do deserto”.

“O Segredo da felicidade é viver  momento a momento e agradecer ao Senhor  por tudo aquilo que em sua bondade nos manda  dia a dia.”

(Santa Gianna Beretta Molla)

Contribuição:
Dayane Negreiros
Entusiasta e divulgadora das catequeses sobre o amor humano no plano divino, de São João Paulo II, a Teologia do Corpo. Filha e devota de Nossa Senhora de Guadalupe. Pró-vida. Membro da Comissão de Bioética da Arquidiocese de Brasília.