Maternidade, ansiedade e depressão

A depressão ainda é um assunto confuso e talvez, até mesmo estigmatizado, especialmente no meio católico. Embora os homens não estejam imunes, a ansiedade e a depressão acometem majoritariamente as mulheres. E aí vem o questionamento: por que as mulheres, embora tenham supostamente conquistado tanta liberdade e tanto espaço na sociedade, sofrem cada vez mais com estes transtornos psicológicos?

A vida moderna trouxe tantos benefícios assim?

A modernidade trouxe inúmeras mudanças para as mulheres. No entanto, junto com esses supostos avanços, vieram também muitas confusões. A mulher dos nossos tempos cresceu ouvindo as ideias feministas de que deve buscar igualdade com os homens, focando no desenvolvimento de uma carreira de sucesso, na obtenção de títulos acadêmicos, na busca por uma independência que, muitas vezes, está ligada à ideia de ser capaz de “fazer tudo sozinha”.

Em decorrência disso, tão incentivada a estudar e trabalhar, a mulher não recebe a formação necessária para a vida no lar e para a maternidade. Essa falta de formação está aliada ao fato de que as famílias são cada vez menores, e as mulheres já quase nem têm mais contato com crianças, de forma que não há oportunidade de aprender quase nada antes de se tornarem mães.

Ela também é incentivada a desligar sua fertilidade, e cresce convivendo com as ideias de que deve evitar filhos ao máximo, que antes dos filhos deve estudar e obter sucesso profissional, e isso gera uma mentalidade até mesmo inconsciente de que a maternidade é ruim, ou ao menos difícil, e que há muitas coisas supostamente melhores para ela do que a maternidade.

Dessa forma, quando a mulher se torna mãe, ela acaba se vendo em uma espécie de crise de identidade, fruto dessas ideias modernas que a confundem, e que a distanciam de sua natureza verdadeiramente feminina.

Mas afinal de contas, existe mesmo a tal da natureza feminina?

Edith Stein, filósofa e teóloga católica também conhecida como Santa Teresa Benedita da Cruz, escreveu reflexões profundas sobre a identidade feminina. Ela ensina que a mulher tem uma identidade e uma essência que lhe são próprias, que não estão ligadas à questões sociais ou biológicas, mas antropológicas: elas são um reflexo de sua alma. Ela explica, com base no Gênesis, que a mulher foi criada para ser companheira do homem e mãe dos seres humanos. Essa é a vocação natural da mulher.

Como decorrência dessa vocação natural de ser esposa e mãe, há características que são essencialmente femininas: gerar vidas, nutrir, acolher, aconchegar, cuidar, educar, proteger. E a mulher é assim, antes de tudo, porque a alma feminina é assim. Por exemplo: se o corpo da mulher tem um útero que é capaz de gerar uma nova vida, isso acontece porque antes a sua alma é assim, sendo, então, o seu corpo, um reflexo da sua alma. O corpo do homem é diferente, e a alma dele também é. Isso é muito belo e muito profundo! Nós precisamos conhecer essa verdade sobre nós e contemplar, porque foi assim que Deus nos criou. Este é o primeiro passo para nos compreendermos e lidarmos com as nossas dificuldades de forma mais consciente e mais leve. Eu acredito muito que as nossas inclinações não nos limitam; ao contrário, elas nos realizam quando nós as compreendemos profundamente. Ouso dizer que a primeira fonte de ansiedade e depressão é justamente essa falta de compreensão e de aceitação da nossa natureza e da nossa vocação natural.

Complementariedade entre homem e mulher

Justamente porque a alma da mulher é diferente da alma do homem, eles são complementares, e o caminho para um casamento feliz está em compreender e em viver essa complementariedade. É por isso que a tal da busca por igualdade gera tantos problemas. Os homens, em geral, não querem uma mulher-macho. Eles querem (ou, com base em sua natureza masculina, deveriam querer) uma mulher para proteger e cuidar. Essa é a natureza masculina, embora, nos nossos tempos, favorecida pela liberdade sexual e pela cultura antinatalista, também esteja bastante desvirtuada.

Nesse sentido, também muitas são as fontes de ansiedade e depressão para as mulheres, que acabam casando com homens que não estão conscientes de seu papel na família e na sociedade, ocasionando em muitos problemas. Acostumados à liberdade excessiva, não valorizam o compromisso que a família requer. Acostumados também aos contraceptivos, evitam os filhos, não os assumem quando eles vêm, e não amadurecem porque continuam vivendo seus prazeres egoístas sem consequências (afinal de contas, os anticoncepcionais eliminam as consequências biológicas do sexo).

Deus criou homem e mulher para serem complementares. Estes papéis distintos são importantes e benéficos para o casamento, para a família e para a sociedade. Assim como as mulheres devem compreender sua natureza, os homens também precisam urgentemente dessa compreensão.

Lembrando que, conforme ensina Edith Stein, as mulheres são educadoras por natureza. Nesse sentido, elas podem, sim, ajudar os homens a descobrirem e compreenderem sua natureza masculina. Este seria assunto para um outro texto, mas, resumidamente, a vida modesta e de piedade da mulher pode, sim, ajudar a conduzir o homem nessa busca pela verdade sobre si mesmo. Isso escreveu São Pedro em sua primeira carta: “Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos. Se alguns não obedecem à palavra, serão conquistados, mesmo sem a palavra da pregação, pelo simples procedimento de suas mulheres, ao observarem vossa vida casta e reservada. (…) Mas tende aquele ornato interior e oculto do coração, a pureza incorruptível de um espírito suave e pacífico, o que é tão precioso aos olhos de Deus.” (I Pd 3, 1-4).

Voltando ao assunto da depressão…

Considerando as distorções geradas pelo feminismo, podemos concluir que as mulheres estão cada vez mais distantes de sua natureza e de sua vocação natural. Isso leva à uma série de problemas de identidade; e não só isso, desencadeia nas mulheres medo da maternidade. Além disso, a falta de preparo para estas funções relacionadas à sua vocação natural lhes causa frustração. E ninguém gosta de se sentir frustrada e incapaz, não é mesmo?

A solução para isso está em buscar ajuda. Buscar desenvolver as habilidades necessárias: cuidar da casa, cozinhar, educar os filhos, aprender a verdade sobre o casamento para ter um bom relacionamento com o marido, entender seu papel na santificação e salvação de sua família. Mais importante que isso é a vida de oração e a busca frequente pelos sacramentos. Somente assim teremos força e receberemos de Deus as graças necessárias para cumprir essa tão nobre missão.

A segunda fonte de ansiedade e depressão pode estar na comparação favorecida pelas redes sociais

Eu vejo que nos últimos anos, nessa era pós-feminista, temos vivido um resgate dessa identidade feminina. Não só isso, temos visto uma onda gigante de verdadeiras conversões. Isso é, verdadeiramente, a mão de Deus agindo no mundo.

No entanto, com tantas mulheres buscando a verdade sobre si mesmas, e buscando um caminho verdadeiro e coerente de vida, acabam muitas vezes se perdendo nos meios. Eu penso que isso é natural, pois imaginem que é como se estivéssemos saindo de um poço cheio de lama (a cultura feminista vigorando na sociedade), buscando nos limpar e procurando, então, o nosso verdadeiro lugar. É natural que haja um pouco de confusão.

Nesse sentido, as redes sociais ajudam muito, mas também podem confundir, visto que cada pessoa é única e cada família é única. Temos a nossa vocação natural, mas também recebemos de Deus outros chamados particulares. E são justamente estes chamados particulares que precisamos descobrir e atender.

Talvez o seu chamado particular de Deus não seja ir morar no campo e nem fazer seu próprio pão de fermentação natural. Talvez você não tenha a vocação para fazer educação domiciliar. Talvez você precise trabalhar fora porque sua família precisa dessa renda. Estas são as circunstâncias particulares, e precisamos saber vivê-las, buscando atender as necessidades particulares da nossa família.

Percebo que algumas mulheres se cobram nesse sentido, buscando um ideal que não necessariamente cabe para si mesma e para a sua família. Isso acaba gerando um sentimento de incapacidade, que leva à frustração, e, por que não, à ansiedade e depressão.

Outra coisa importante de considerarmos é algo que Edith Stein também ensina: temos nossas inclinações femininas naturais, mas que são deturpadas pelo pecado original. Então, as características naturais inclinadas ao afeto e ao cuidado acabam se desvirtuando em controle excessivo com a vida alheia, possessividade, curiosidade, dependência emocional, vaidade, e até mesmo na busca desequilibrada pela aprovação alheia. As redes sociais acabam favorecendo tudo isso. Como diz o Eclesiastes: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” As redes sociais nos oferecem muitos benefícios, como o das amizades e também o de aprender coisas novas, mas precisamos ter cuidado, usar com moderação, e não colocá-las no centro, como prioridade nas nossas vidas. Corremos o risco de menosprezar a nossa vida real com base em recortes bonitos da vida de outras pessoas.

Todas nós estamos buscando o caminho verdadeiro. A Verdade é uma só, o Caminho também é um só, e Deus nos deu circunstâncias e chamados particulares para atendermos e nos santificarmos e, assim, chegarmos à Vida em plenitude.

O isolamento das famílias modernas e a tal da rede de apoio

Se nos atentarmos aos relatos bíblicos e às tradições mais antigas, verificaremos que famílias viviam mais próximas, formando pequenos núcleos nos quais as pessoas se ajudavam. Enquanto os homens saíam em busca do alimento, as mulheres estavam focadas no cuidado com o lar, com os filhos, com o cultivo e preparo dos alimentos, com o andamento da família. É interessante notar que as mulheres ajudavam-se mutuamente, e esse convívio facilitava o trabalho diário e criava um convívio que favorecia o aprendizado, o apoio emocional e o fortalecimento das relações.

As mulheres mais velhas ensinavam as mais jovens a cuidar dos filhos, a administrar o lar e a desempenhar suas responsabilidades com sabedoria. As meninas aprendiam desde cedo a cozinhar e a cuidar dos irmãozinhos ou priminhos. Esse aprendizado prático favorecia a continuidade da cultura e dos valores familiares, fortalecendo também os laços. Quando uma mulher tinha dificuldades, seja em relação à maternidade ou ao cuidado com a casa, havia outras mulheres prontas para oferecer ajuda e orientação.

E olha que bonito: isso está na Bíblia! “Assim também as mulheres de mais idade mostrem no seu exterior uma compostura santa, não sejam maldizentes nem intemperantes, mas mestras de bons conselhos. Que saibam ensinar as jovens a amarem seus maridos, a quererem bem seus filhos, a serem prudentes, castas, cuidadosas da casa, bondosas, submissas a seus maridos, para que a Palavra de Deus não seja desacreditada.” (Tito 2, 3-5)

Com a urbanização e a industrialização, as famílias foram progressivamente adotando um estilo de vida mais individualizado e solitário. O estilo de vida moderno, tão focado na independência e no sucesso profissional, acabou distanciando as pessoas umas das outras, especialmente de seus familiares. Esse isolamento acabou afetando bastante as mulheres, que, ao chegarem na fase da maternidade, se veem isoladas e sem preparo.

Além disso, as gerações das nossas mães e avós também foram afetadas pelas ideias feministas, e muitas vezes, sem má intenção e sem consciência, acabam propagando essas ideias que distorcem tanto a natureza feminina. Esse é um dos fatores que também acaba distanciando as gerações, porque as mães atuais já não querem os conselhos e as ajudas de suas mães e avós. Aqui nós precisamos ter cautela e caridade. Não somos melhores que elas, e elas sempre terão algo a nos ensinar! Se nós fomos vítimas das ideologias, elas também foram. Não podemos nos distanciar das nossas raízes e favorecer as desavenças familiares. O amor, a paciência e a humildade são o caminho para a boa convivência.

Eu nunca gostei do termo “rede de apoio”, porque acho que ele está vinculado a uma espécie de desejo por se eximir de suas responsabilidades. Infelizmente é muito comum que as mães modernas deleguem totalmente seus filhos às babás, às telas ou a professores com convicções duvidosas. Esse é um problema muito grave dos nossos tempos! Precisamos assumir as nossas responsabilidades com a nossa família.

Por outro lado, a individualização não é boa. Ninguém é autossuficiente e a vida é muito mais alegre e feliz quando compartilhada. Precisamos de companhia, precisamos ter humildade para ouvir conselhos das mulheres mais velhas, e precisamos buscar ajuda sempre que necessário, seja para as situações de ordem prática, seja para as situações de ordem emocional.

Se você se vê solitária e isso te pesa, busque companhia! Se você se sente ansiosa e depressiva, busque ajuda psicológica e/ou médica.

Outros problemas associados ao estilo de vida moderno

Não podemos deixar de mencionar os fatores fisiológicos que contribuem para os quadros de ansiedade e depressão. Os costumes da vida moderna favorecem ao sedentarismo, à pouca exposição solar e à natureza, ao convívio diminuído com amigos e familiares, à alimentação excessivamente industrializada, e esses fatores acabam afetando os processos psicológicos.

Um dos principais problemas que afeta o humor são as deficiências nutricionais. Os fatores associados ao estilo de vida moderno levam à uma diminuição de vitaminas e minerais que são importantes para a manutenção das funções corporais, inclusive da mente. Aqui vale a pena refletir sobre a alimentação e considerar uma suplementação vitamínica.

O sedentarismo e os níveis aumentados de estresse também afetam a saúde mental. Mães sobrecarregadas devem avaliar a possibilidade de fazer um exercício físico. Não precisa ser necessariamente academia, uma caminhada pelas ruas do bairro já ajudam bastante no alívio do estresse e nas funções fisiológicas.

Descansar também é importante. Todo mundo precisa descansar! É claro que, com a chegada dos filhos, vamos entendendo a importância do serviço, e muitas vezes precisamos trabalhar de forma que parece ultrapassar os limites da nossa capacidade física. Então vale a pena fazer ajustes na rotina, cuidar do sono das crianças e, por que não?, pedir ajuda.

Outro fator moderno que contribui para a ansiedade e a depressão é o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como smartphones, computadores e televisões. É essencial controlarmos o tempo de uso desses dispositivos, e buscar substituí-los por uma boa leitura e uma boa conversa na vida real, com amigos e familiares. É interessante que a nossa geração parece ter desacostumado com os livros. Começa-se a leitura de uma página e o tédio já aparece, porque, comparado ao ritmo frenético das redes sociais, a página do livro é silenciosa e monótona. Vale a pena refletir sobre isso e fazer as mudanças necessárias, nem que para isso seja preciso acionar o despertador para controlar o tempo de uso das telas.

Por fim, é importante aumentar a exposição ao sol e à natureza. A natureza nos acalma! É muito comum sentirmos paz e tranquilidade quando estamos diante do mar ou em meio a um parque cheio de flores e árvores, ouvindo o vento balançar as folhas e o cantar dos pássaros…

Enfim, as deficiências nutricionais, o sedentarismo, a privação de sono, o excesso de estímulos digitais, a alimentação excessivamente industrializada e a falta de exposição à natureza são fatores que contribuem para o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão. Esses fatores, aliados aos citados anteriormente – de mudanças culturais e ideias feministas que distanciam a mulher de sua natureza – podem agravar o quadro.

Oração e sacramentos

Considerando todo o exposto, podemos nos perguntar: “por onde eu começo?” “Quais são os meus chamados particulares?”

Minha amiga, Deus te fez única. Da mesma forma, Ele tem para você um chamado único. Seu marido é único, com seus defeitos e qualidades. Seus filhos são únicos, com as necessidades particulares. E o número de filhos? Só Deus sabe quantos filhos Ele gostaria de te enviar…

Como cumprir essa missão tão grandiosa sem pirar? Como conciliar todas as demandas da vida familiar com as nossas particularidades, talentos e funções externas na sociedade?

Sinto dizer, mas não há resposta pronta. Você encontrará as respostas na oração e nos sacramentos. É este o ponto de partida. Deus não deixará de revelar Sua Vontade a um coração que busca por essa vontade com sinceridade.

Na vida de oração, nós falamos com Deus, e Deus também nos fala, através da Palavra, dos bons sacerdotes e da vida dos santos. No sacramento da confissão, Deus nos lava dos nossos pecados e erros passados, nos dá uma nova veste e uma nova vida, e ainda nos dá graças especiais para que não caiamos mais nestes pecados. E no sacramento da Eucaristia, nós recebemos o próprio Cristo. “Este é o Meu Corpo”. Quantas graças não podemos receber neste santíssimo sacramento, se estivermos de coração aberto?!

Buscando o aprofundamento espiritual, conseguiremos encontrar respostas para nossos dilemas, dúvidas e problemas. Aproximando-nos de Deus, Ele nos oferecerá caminhos, meios, pessoas, que nos ajudarão a solucionar nossos problemas e dilemas, e a tomarmos decisões benéficas para a nossa família.

Conclusão

Se você está passando por um momento difícil, o primeiro passo é se apegar na oração e nos sacramentos. Busque a Deus de coração, peça a Ele que te mostre os bons caminhos para você e sua família.

Reveja seus hábitos. Alimente-se melhor, caminhe, pegue um pouco de sol. O contato com a natureza nos traz paz e nos ajuda a reequilibrarmos os pensamentos.

Fortaleça suas convicções. Busque compreender a natureza feminina tal qual idealizada por Deus. Busque se limpar de todas as ideias modernas que deturpam a vocação natural da mulher (esposa e mãe). Reconcilie-se com sua fertilidade, reconcilie-se com seus pais, reconcilie-se com seu marido, reconcilie-se com o seu lar.

Não deixe de buscar ajuda. Procure as amigas para conversar, peça ajuda para sua mãe, ou sogra, ou outra pessoa de confiança, para o cuidado com as crianças e a casa. Busque ajuda psicológica ou médica se concluir que está difícil superar um momento difícil sozinha. Há casos em que os medicamentos também serão necessários, e eles são uma grande bênção quando indicados por um bom médico, que tenha feito uma boa avaliação do seu caso.

A vida é um presente de Deus, e é muito boa! Não deixe de buscar as soluções necessárias para que a sua vida e o convívio com sua família seja alegre e leve!

Com carinho,
Ana Derosa.

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