Impactos da vasectomia e da laqueadura na saúde e no amor conjugal

Muitos são os casais que buscam as cirurgias de esterilização por acreditar que elas lhes trarão muitos benefícios, sem quaisquer efeitos colaterais. Mas será mesmo que estas cirurgias são inofensivas? Será que, quando alteramos o funcionamento normal do nosso corpo, esse procedimento não causará nenhuma consequência?

O objetivo deste texto é analisar possíveis efeitos colaterais das cirurgias de esterilização, bem como os malefícios que elas podem causar para a vida conjugal e espiritual do casal.

Vasectomia: Possíveis Males à Saúde do Homem

A vasectomia é um procedimento cirúrgico de esterilização masculina considerado seguro, mas não isento de riscos. Alguns efeitos adversos e preocupantes podem surgir a longo prazo.

1. Dor Crônica Pós-Vasectomia (Síndrome da Dor Pós-Vasectomia – PVPS)

Estima-se que entre 1 a 2% dos homens que realizam vasectomia possam desenvolver dor crônica na área genital. Essa dor pode ser debilitante e durar anos após o procedimento. Um estudo (Leslie, Illing, 2007) relatou que até 15% dos homens apresentam algum nível de dor após a cirurgia, embora a maioria não relate severidade significativa. A dor pode resultar de danos nervosos ou inflamação crônica.

2. Aumento do Risco de Câncer de Próstata

Algumas pesquisas indicam que homens submetidos à vasectomia podem ter um risco maior de desenvolver câncer de próstata. Um estudo (Eisenberg et at, 2014) sugeriu um risco 10% maior de câncer de próstata agressivo em homens vasectomizados, comparado com aqueles que não realizaram o procedimento.

3. Impacto sobre a Saúde Cardiovascular

Estudos sugerem que a vasectomia pode alterar os níveis hormonais masculinos, aumentando potencialmente os riscos de doenças cardiovasculares. Um estudo (Sokal et al., 2002) indicou que homens que realizaram a vasectomia tinham níveis ligeiramente mais elevados de antígeno prostático específico (PSA), embora a relevância clínica disso ainda não esteja clara.

4. Risco de Doença Autoimune

Em alguns casos, o sistema imunológico do homem pode reagir contra o próprio esperma após a vasectomia, causando doenças autoimunes. Isso ocorre devido à produção de anticorpos antiesperma que atacam o esperma. Uma revisão da literatura (Schopflocher et al 2010) sobre a relação entre vasectomia e o desenvolvimento de autoimunidade verificou que alguns estudos sugerem um aumento na produção de anticorpos anti-espermatozoides após o procedimento.

Laqueadura: Possíveis Males à Saúde da Mulher

A laqueadura tubária, também conhecida como esterilização feminina, é um método cirúrgico de contracepção definitiva. Embora amplamente utilizada, o procedimento pode trazer riscos tanto físicos quanto emocionais.

1. Complicações Cirúrgicas

Embora segura, a laqueadura pode causar complicações imediatas, como infecções, hemorragias e lesões nos órgãos próximos, como intestino ou bexiga. Um estudo (Pati e Cullins, 2000) relatou que complicações cirúrgicas ocorrem em aproximadamente 1 a 2% dos casos, variando de infecções a perfurações intestinais.

2. Gravidez Ectópica

A falha na laqueadura pode resultar em gravidez. Nestes casos, há um risco elevado de gravidez ectópica, uma condição perigosa onde o óvulo fertilizado se implanta fora do útero (nas trompas, por exemplo). Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), cerca de 1 em cada 3 gestações resultantes de laqueaduras falhadas é ectópica. Um estudo (Malacova et al., 2014) relatou que as mulheres que recorrem à laqueadura com idade mais jovem apresenta um risco aumentado de sofrer uma gravidez ectópica.

3. Síndrome Pós-Laqueadura

A síndrome pós-laqueadura é caracterizada por dor pélvica crônica, ciclos menstruais irregulares e até sintomas de menopausa precoce. Um estudo (Yunker et al., 2015) relatou um aumento de dor pélvica crônica e distúrbios menstruais em mulheres esterilizadas.

4. Impactos Hormonais

Alguns estudos sugerem que a laqueadura pode afetar a função dos ovários ao alterar o fluxo sanguíneo, podendo desencadear menopausa precoce (Grynnerup et al., 2013).

5. Arrependimento Pós-Laqueadura

É comum que mulheres que se submetem à laqueadura se arrependam do procedimento algum tempo depois. Uma meta-análise mostrou que, quando mais nova é a mulher que recorre à esterilização, maior é o arrependimento (Curtis et al., 2006).

Conclusão parcial:

Tanto a vasectomia quanto a laqueadura são métodos de controle de natalidade que não estão isentos de possíveis riscos à saúde. Estes procedimentos permanentes exigem uma consideração cuidadosa e uma compreensão dos potenciais efeitos físicos e emocionais a longo prazo.

É lógico pensarmos que a interferência no funcionamento normal do organismo pode gerar consequências. O sistema reprodutor, projetado para a geração de novas vidas, não possui uma função isolada, mas também interage com o restante do organismo.

O sistema reprodutor está interligado ao equilíbrio hormonal, ao bem-estar emocional e à saúde geral do corpo. Hormônios como estrogênio e testosterona, por exemplo, não apenas regulam a fertilidade, mas também influenciam o humor, a densidade óssea, a saúde cardiovascular e outras funções fisiológicas.

A interferência no sistema reprodutor, por meio de cirurgias de esterilização, não afeta apenas a capacidade de ter filhos, mas pode alterar o equilíbrio global do organismo.

Problemas Morais da Laqueadura e Vasectomia segundo os Ensinamentos da Igreja Católica

A Igreja Católica, como depositária da fé e da moral, ensina que a fecundidade matrimonial é um dom e um mandamento. Qualquer intervenção que voluntariamente e permanentemente elimine a capacidade de gerar vida fere a dignidade humana e desrespeita o plano divino para a fecundidade matrimonial. A laqueadura, a vasectomia, e outros métodos artificiais de controle de natalidade ferem o amor e a fecundidade matrimonial.

A Fertilidade e o Plano de Deus

A sexualidade humana tem dois propósitos inseparáveis: o unitivo e o procriativo. O propósito unitivo é a expressão de amor total entre os cônjuges, e o procriativo é a abertura à criação de novas vidas. Assim, Deus chama os casais a colaborarem com Ele em sua Criação, gerando novas vidas e trazendo-as ao mundo. É uma grande e belíssima missão!

Quando um casal opta por métodos permanentes de esterilização, como a vasectomia ou a laqueadura, eles separam as duas finalidades da sexualidade humana. Isso não se trata de uma regra infundada, mas da interpretação de um aspecto antropológico: eliminar um dos significados da sexualidade inevitavelmente enfraquece o outro.

Em outras palavras, retirar da sexualidade humana o aspecto procriativo acaba por enfraquecer o aspecto unitivo. Não é à toa que muitas pessoas se envolvem fisicamente sem qualquer união verdadeira, tratando-se como objetos de descarte. Embora, em regra geral, este não seja o objetivo de um casal unido em matrimônio, a eliminação do aspecto procriativo invariavelmente afeta o unitivo, principalmente por causa da interpretação distorcida da sexualidade do casal (como se ela servisse apenas para realização de um prazer pessoal).

A encíclica Humanae vitae foi publicada pelo Papa Paulo VI em 1968, pouco tempo após o surgimento da pílula anticoncepcional. Nessa encíclica, o papa reafirmou a posição da Igreja ao dizer que “qualquer ação que, antes, durante ou depois do ato conjugal, tenha como objetivo impedir a procriação, é intrinsecamente desordenada”. Isso inclui a esterilização voluntária, seja masculina ou feminina. Esse ensinamento veio a ser repetido e confirmado pelos papas subsequentes, em novos documentos da Igreja.

O Pecado da Esterilização Contraceptiva

A laqueadura e a vasectomia são formas de contracepção permanente e intencionalmente voltadas para impedir a fertilidade, violando assim a ordem natural e o propósito dado por Deus ao ato conjugal. Este ato é considerado um pecado grave porque impede a colaboração do casal com Deus na geração de novas vidas. 

Além disso, o Catecismo da Igreja Católica (CIC 2399) ensina que os casais devem respeitar os processos naturais do corpo e acolher com responsabilidade os filhos que Deus envia. A esterilização nega esse princípio de responsabilidade e confiança no plano divino.

Consequências Espirituais e Morais

Optar pela esterilização pode levar a uma distorção do entendimento do propósito do casamento. A Igreja ensina que o casamento é uma vocação, um chamado de serviço ao outro, e a esterilização acaba transformando a sexualidade em algo voltado exclusivamente para o prazer, sem a abertura à vida. Essa visão distorcida pode levar a uma visão utilitarista do corpo e da sexualidade matrimonial. Isso é algo lógico e, inclusive, já demonstrado pelo médico Dr. Thomas Hilgers (Hilgers, 2018): dados estatísticos compilados por sua equipe nos Estados Unidos mostraram que as taxas de divórcio são mais altas em casais que recorreram à cirurgia de esterilização ou outro método artificial de controle de natalidade, demonstrando o quanto, de fato, a eliminação do aspecto procriativo pode enfraquecer a união do casal.

Além disso, como vimos anteriormente, as cirurgias de esterilização não estão isentas de riscos. Isso ocorre porque, quando manipulamos a natureza biológica e fisiológica do homem e da mulher, podemos gerar problemas na sua saúde e no funcionamento do seu corpo.

Ademais, são frequentes os relatos de arrependimento após a cirurgia de esterilização, já que ela gera uma alteração permanente.

O Valor da Abertura à Vida

A moral católica ensina que cada ato de amor conjugal deve permanecer aberto à possibilidade de vida, mesmo quando as circunstâncias tornam a concepção improvável. Métodos naturais de controle da fertilidade são moralmente aceitáveis, pois respeitam o corpo e os processos naturais sem romper com o propósito procriativo do matrimônio. Ao contrário da esterilização, esses métodos promovem o diálogo entre os cônjuges e respeitam a natureza integral do ser humano.

A Igreja chama os casais a viverem a paternidade responsável: tendo consciência dos significados da fecundidade matrimonial, do chamado de Deus a colaborar com Ele gerando novas vidas, e usando métodos naturais de observação da fertilidade para espaçarem uma gravidez, caso identifiquem, com retidão de intenção, motivos justos para tal, preservando, assim, a dignidade do casal e a dignidade matrimonial.

Os métodos naturais

A Igreja Católica, ao longo de sua história, sempre defendeu a dignidade e a sacralidade da vida humana, bem como a união conjugal em sua plenitude. Dentro desse contexto, os casais que por razões legítimas precisam espaçar as gestações, são orientados a recorrer aos métodos naturais de planejamento familiar, como o Método Billings ou o Creighton Model. Esses métodos, além de respeitarem a moralidade do ato conjugal, promovem benefícios para o casal, tanto em termos de saúde quanto de intimidade.

Respeito à Moralidade Conjugal

Os métodos naturais de planejamento familiar, como Billings e Creighton, estão em total harmonia com os ensinamentos da Igreja. Ao contrário dos métodos artificiais de contracepção, que impedem a fertilidade e separam os aspectos unitivo e procriativo do ato conjugal, os métodos naturais respeitam a natureza humana e a fecundidade matrimonial. Esses métodos funcionam com base na observação dos sinais naturais do corpo da mulher, permitindo que o casal identifique os períodos férteis e inférteis do ciclo feminino.

Ao utilizar esses métodos, os casais se mantêm abertos à vida, mas podem espaçar as gestações de maneira responsável, conforme suas necessidades. Esse respeito ao plano natural dado por Deus não fere a moral conjugal, permitindo que o casal viva plenamente a união matrimonial.

Sem Efeitos Colaterais

Uma das grandes vantagens dos métodos naturais é a ausência de efeitos colaterais. Métodos artificiais, como pílulas anticoncepcionais, dispositivos intrauterinos e cirurgias de esterilização, frequentemente causam efeitos adversos à saúde, como alterações hormonais, risco de trombose, aumento de peso, entre outros. Já os métodos naturais, por não interferirem quimicamente ou fisicamente no corpo, são completamente seguros para a saúde, respeitando o equilíbrio natural do organismo feminino.

Participação Ativa do Marido

Outra grande vantagem dos métodos naturais é a necessidade de participação ativa do marido. Ao aprenderem juntos sobre os sinais de fertilidade, o casal entra em um processo de diálogo constante, que fortalece a comunicação entre os dois. 

No caso dos contraceptivos artificiais, apenas a mulher arca com a responsabilidade e com os efeitos colaterais. Esse processo de participação conjunta do casal não apenas evita o fardo que muitas vezes recai unicamente sobre a mulher em métodos artificiais, mas também fortalece o vínculo afetivo e espiritual entre marido e esposa.

Promoção de Maior Intimidade

Ao utilizar os métodos naturais, o casal passa a valorizar e a respeitar ainda mais a união conjugal. O período de abstinência, necessário em determinados dias do ciclo para espaçar uma gravidez, proporciona momentos de autocontrole e sacrifício, o que, paradoxalmente, fortalece a relação. A espera e o respeito pelo tempo do outro cria uma expectativa saudável e promove uma maior intimidade quando o casal pode novamente se unir.

Além disso, essa convivência mais atenta aos ciclos naturais do corpo cria uma nova percepção da sexualidade, fortalecendo a união do casal, que vai muito além do prazer momentâneo.

Conclusão final:

Ao respeitarem a fecundidade matrimonial, o casal não apenas protege a saúde física da mulher (ou do homem), mas também vivencia uma intimidade mais profunda. 

Referências sobre Vasectomia e Laqueadura

Leslie, T. A., & Illing, R. O. (2007). “Chronic Testicular Pain Following Vasectomy: A Review of Post-Vasectomy Pain Syndrome.” BJUI International, 99(2), 331-334.

Eisenberg, M. L., et al. (2014). “Vasectomy and risk of aggressive prostate cancer: a 24-year follow-up study.” Journal of Clinical Oncology, 32(27), 3033-3038. https://doi.org/10.1200/JCO.2013.54.8446.

Sokal, D., et al. (2002). “Vasectomy safety and risks: a systematic review.” Contraception, 65(2), 125-138. https://doi.org/10.1016/S0010-7824(01)00283-9.

Schopflocher, T. B., Borsuk, J. G., & Houghton, J. J. (2010). “Autoimmunity Following Vasectomy: A Review of the Evidence.” American Journal of Reproductive Immunology, 63(3), 175-182.

Pati, S., & Cullins, V. (2000). “Female Sterilization.” Obstetrics and Gynecology Clinics of North America, 27(4), 859-899.

American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Practice Bulletins and Guidelines. Obstetrics & Gynecology, various issues. Available at: https://www.acog.org

Malacova, E., Kemp, A., Hart, R., Keelan, J. A., Codde, J., & Jamieson, L. (2014). “Long-term risk of ectopic pregnancy varies by method of tubal sterilization: a whole-population study.” Fertility and Sterility, 101(3), 759-765.

Yunker, A. C., Ritch, J. M. B., Robinson, E. F., & Golish, C. T. (2015). “Incidence and Risk Factors for Chronic Pelvic Pain After Hysteroscopic Sterilization.” Journal of Minimally Invasive Gynecology, 22(3), 390-394.

Grynnerup, A. G.-A., Lindhard, A., & Sørensen, S. (2013). “Anti-Müllerian hormone levels in salpingectomized compared with nonsalpingectomized women with tubal factor infertility and women with unexplained infertility.” Fertility and Sterility, 100(4), 1033-1038.

Curtis, K. M., Mohllajee, A. P., & Peterson, H. B. (2006). “Regret following female sterilization at a young age: a systematic review.” Contraception, 73(2), 205-210.

Documentos da Igreja Católica:

Papa Paulo VI.
Humanae Vitae: Sobre a Regulação da Natalidade. Vaticano, 25 de julho de 1968.
Disponível em: http://www.vatican.va

Catecismo da Igreja Católica.
Seção III: A Vida em Cristo, Artigo 6 – “O Sexto Mandamento”.
Publicado pela Libreria Editrice Vaticana, 1992.
Disponível em: http://www.vatican.va/archive/ccc/

Papa João Paulo II.
Evangelium Vitae: Sobre o Valor e a Inviolabilidade da Vida Humana. Vaticano, 25 de março de 1995.
Disponível em: http://www.vatican.va

Papa Pio XI.
Casti Connubii: Sobre o Matrimônio Cristão. Vaticano, 31 de dezembro de 1930.
Disponível em: http://www.vatican.va

Papa João Paulo II.
Familiaris Consortio: Sobre a Missão da Família Cristã no Mundo de Hoje. Vaticano, 22 de novembro de 1981.
Disponível em: http://www.vatican.va

Conselho Pontifício para a Família.
Vademecum para os Confessores sobre Alguns Temas de Moral Conjugal. Vaticano, 12 de fevereiro de 1997.
Disponível em: http://www.vatican.va

Congregação para a Doutrina da Fé.
Dignitas Personae: Sobre Algumas Questões de Bioética. Vaticano, 8 de setembro de 2008.
Disponível em: http://www.vatican.va

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