Retirado da página “Fertilidade Inteligente” e compartilhado com autorização da autora Pamela Arruma.

A SOP, a endometriose e eu!

Desde minha primeira menstruação, tão esperada (sabe de nada, inocente), eu sempre sofri horrores. Aos 14 anos fui em minha primeira consulta ginecológica, pois não achava normal a cólica que eu sentia, de lá para cá coleciono tantos ultra-sons que seria possível revestir meu quarto com eles.

No primeiro exame de imagens constatou-se a SOP (Síndrome do ovário policístico), a médica então me receitou anticoncepcional e como havia um cisto maior, caso ele não retrocedesse, eu teria que operar. Foi um choque para mim! Saber que eu poderia “entrar na faca” – expressão gentilmente usada pela médica – para a retirada de um cisto, e talvez o ovário inteiro.

E então começou minha peregrinação para encontrar um anticoncepcional que trouxesse os benefícios que eu precisava e não me causasse tantos efeitos colaterais. Os anos foram passando, os cistos iam e viam, os efeitos colaterais também, e o meu quadro só piorava. Me irritava profundamente o fato de que os médicos só sabiam me dizer que era normal o que eu sentia, e insistiam no uso do bendito e milagroso anticoncepcional. Passei por TODOS os ginecologistas do meu plano, e o discurso era o mesmo. Mas nada me convencia de que era normal o que eu sentia, eu sabia do que eu estava falando, e nunca fui de me contentar com a simples afirmação de uma autoridade, se isso não me convencesse racionalmente. E racionalmente, minha dor não era normal.

Foi então que resolvi descobrir, por conta própria, o que eu tinha. Acho que foi a partir daí que eu percebi que não basta ter um diploma, o conhecimento vai muito além dele. Depois de muito pesquisar eu cheguei ao meu diagnóstico: endometriose. Além da SOP já diagnosticada. Os médicos insistiam que eu não tinha, pois nada aparecia nos exames de ultra-som. Pois bem, pesquisei um pouco mais e descobri que em alguns casos, apenas uma vídeo-laparoscopia seria capaz de diagnosticar a endometriose com precisão.

Procurei um médico que realizasse esse exame e ao chegar ao consultório, nisso eu já tinha 24 anos, eu disse: Dr., eu tenho endometriose e estou cansada de ouvir dos médicos que eu não tenho, estou aqui para você realizar um exame de vídeo-laparoscopia e confirmar o que eu tenho certeza. Ele disse prontamente: que dia você quer fazer?

E assim realizei o exame. Resultado? Útero e ovário esquerdo tomados por focos, útero aderido ao intestino (por isso as dores intensas ao evacuar) e vários focos espalhados. Ele conseguiu tirar a aderência, o que me deu um grande alívio, não mais senti dor ao ir ao banheiro no período menstrual, mas não pôde limpar todos os focos, pois eu ainda não tinha tido filhos e isso poderia interferir em minha fertilidade.

Iniciou-se, novamente, minha peregrinação em busca do remédio perfeito para a endometriose, mais uma vez caí nos “benditos” anticoncepcionais. Nada resolvia. Chegou então ao Brasil o DIU Mirena, o queridinho dos ginecologistas, e lá fui eu. 13 meses usando, 13 meses surtada, 13 quilos mais pesada. E mais uma vez os médicos diziam que era para eu insistir, que ele só fazia bem, que não engordava, e que as minhas reações deviam ser psicológicas, que minhas alterações de humor nada tinham a ver com o DIU, mesmo a bula informando que dentre as reações adversas comuns estavam distúrbios psiquiátricos. Cansada de buscar dados em português, resolvi pesquisar em inglês. E descobri que os meus surtos psicológicos por conta do Mirena eram recorrentes em países que usavam o Mirena há mais tempo e que até Associações foram criadas com o intuito de banir esse DIU. Encontrei o blog “My life after Mirena” e o Dr. J. Após meu marido (eu já estava com 28 anos, casada e com uma filha) assistir alguns vídeos dele, me disse: você vai tirar esse DIU amanhã.

Assim o fiz. Então comecei a usar o Allurene. Outro remédio que promete maravilhas, no entanto, apesar de não ser considerado um anticoncepcional, você não engravida enquanto estiver usando. Comecei seu uso, o que foi uma “bênção”. Minha menstruação parou, e não tive nenhum efeito colateral, achei que enfim meu problema estava resolvido. Mas como gosto muito de pesquisar e aprender com as experiências dos outros, entrei para um grupo do Orkut de portadoras de endometriose, e foram inúmeros os casos que li de pessoas que usaram DIU ou remédios que suspendem a menstruação por anos, quando resolveram parar para engravidar quase morreram na primeira menstruação. Passaram muito mal, e depois de muitos exames descobriram que a endometriose havia avançado, mesmo a menstruação estando suspensa e a pessoa não ter sintomas nenhum. Como isso é possível? Pois é, suspender a menstruação não é garantia de parar o avanço da endometriose. E nisso eu comecei a ficar muito pensativa: o que era melhor eu fazer? Continuar tomando o remédio, sem sentir nada, e correr o risco de quando parar o meu quadro estar pior, ou parar o remédio, continuar menstruando, e assim saber se a doença está ou não avançando através dos sintomas? Eis a questão!

Depois de vários meses usando o Allurene, resolvi parar. E para a minha surpresa minhas dores estavam piores do que quando iniciei o tratamento. Depois de um ano sofrendo, engravidei do meu segundo filho. No parto, que foi uma cesárea necessária, a médica disse nunca ter visto tantos focos de endometriose na vida, e ainda questionou se eu tinha engravidado naturalmente, pois não era possível eu ter engravidado sem uma intervenção médica. Engravidei não devido à intervenções médicas, mas divina, através das orações de minha filha, mas isso é uma outra história.

Um mês após o parto, mesmo em amamentação exclusiva, menstruei. Então pensei: é, realmente minha endometriose deve estar pavorosa. A pergunta que fica é: como a minha endometriose pode ter piorado tanto após anos usando os melhores medicamentos e após duas gestações? A resposta é: tanto os remédios, quanto a gravidez, tratam os sintomas, e não a causa. Não menstruar faz com que você não sinta os terríveis sintomas, mas não anula o fator causador da endometriose.

Pelo fato da endometriose ser uma doença inflamatória e auto-imune, descobri que uma dieta Low-carb (dieta com redução de carboidratos) pode ser eficaz em seu tratamento. Como eu namorava a dieta Paleo há alguns anos, resolvi aderir a Low-Carb dentro da Paleo, excluindo de vez os industrializados, o açúcar, o glúten, e o amido.

Já no primeiro ciclo, o susto! Costumava ter TPM uns 10 dias antes, era o único sinal de que minha menstruação estava por vir, meu ciclo era completamente descompensado por causa da SOP, e minha menstruação veio sem eu receber nenhum sinal de que ela viria, me pegou de surpresa pela primeira vez na vida. Não senti dor, não tive coágulos, não tive TPM, inclusive, estava em uma viagem romântica com meu marido, algo impossível de acontecer durante meu ciclo, ficava extremamente irritadiça nesse período. E todos os demais ciclos seguiram-se assim, nada de TPM, nada de dor, nada de coágulos, nada de fluxo intenso.

Em uma última consulta com minha ginecologista, ao fazer o exame pélvico – pois estou grávida de nosso terceiro filho – ela me disse: se você realmente tem endometriose, ela é muito fajuta, pois seu útero está completamente “solto”, maleável, esse abdômen não é um abdômen de quem tem endometriose. Realmente, pela primeira vez um exame pélvico não me foi tão incômodo e nem dolorido. O que ela disse só veio reafirmar o que eu já sabia, as inflamações tinham sumido, haja vista que eu não sentia mais dor nenhuma ao menstruar.

Eu ovulei em todos os meus ciclos durante a dieta LCHF (Low-Carb High-Fat), tanto é que em 5 meses de dieta eu engravidei, sinal que a SOP também regrediu. Quando tentei engravidar da minha primeira filha, fiz rastreamento de ovulação por 6 meses, eu simplesmente não ovulava. Foi fantástico perceber os sinais de ovolução em todos os ciclos.

O que mais me chateia é que eu precisei sofrer por quase duas décadas sem nunca, médico algum, me dizer: corte açúcar, corte glúten, corte amido, corte industrializados. Gastei muito com remédios, gastei muito com tratamento, sofri muito, fiz muitos sofrerem, mas graças a Deus estou curada destes males, eles não me afetam mais.

Quanto à dieta? É um estilo de vida que eu seguirei enquanto viver. Redescobrir o prazer dos alimentos naturais, comer comida de verdade, não ter medo da gordura natural dos alimentos, distinguir fome de vontade de comer, não sentir mais compulsão por comida, ter mais disposição, energia e se sentir mais leve, em todos os sentidos, não tem preço.

Se você sofre como eu sofria, se está tentando engravidar, ou se, simplesmente, quer ter mais qualidade de vida, te convido a procurar um bom profissional e aderir a esse estilo de vida. Uma dieta Paleo, consumindo carboidratos do bem, é benéfica para todos da família. Aqui em casa todos aderimos, e cada um teve seus ganhos. Minha filha, que é diabética tipo 1, teve sua glicada reduzida de 7,6% para 6,4% em apenas 3 meses, meu marido, que sempre teve pouca energia, do tipo que dorme bem cedo, hoje tem pique total, e eu, bem, voltei ao meu peso de solteira, 54kg, estou na terceira gestação e muito feliz com essas conquistas. Experimente!

Pâmela.