Stella sentiu seu coração acelerar enquanto salvava o contato de Pedro em seu celular. O sol da tarde atravessava os vitrais da Catedral, criando reflexos coloridos no chão da Igreja e trazendo uma sensação de paz e tranquilidade quase mística. As conversas de outros poucos turistas ressoava como um sussurro que se ampliava suavemente com a reverberação da Catedral. Apesar da situação inesperada, o encontro com Pedro naquele local tranquilo e histórico a deixava curiosamente leve, com uma alegria que ela não sentia há muito tempo.
Seus pais, que até então observavam o encontro de longe, começaram a se aproximar com expressões curiosas. Dona Inês, sua mãe, sempre atenta, sorriu gentilmente enquanto se aproximava de Stella.
— Quem é o rapaz, minha filha? — perguntou, com sua voz suave, enquanto ajeitava a bolsa no ombro.
Pedro, ainda por perto e ouvindo claramente a pergunta, deu uma risadinha discreta. Ele havia se encostado em um dos bancos de madeira que ficavam ao longo do corredor principal da catedral, seus olhos brilhando sob a luz suave que atravessava os vitrais coloridos.
— Ah, mãe, este é o Pedro — respondeu Stella, mantendo um tom sereno, mas levemente desconcertante. — Nós nos conhecemos no parque há algumas semanas. E, por coincidência, nos encontramos novamente aqui hoje.
Pedro se adiantou com um sorriso cordial e estendeu a mão para cumprimentar os pais de Stella.
— Muito prazer em conhecê-los! A Stella é uma ótima companhia para encontros inesperados, sempre uma surpresa agradável. — Eles riram.
Pedro parecia confortável, como se estivesse acostumado a conversas casuais.
— Aproveitem o resto do passeio! E, Stella, a gente se fala — disse Pedro, se afastando com um aceno.
— Claro! — Stella acenou de volta, tentando esconder a felicidade súbita que a dominava.
Enquanto continuavam o passeio em direção ao museu, seus pais discutiam o que mais queriam ver na cidade. Dona Inês, no entanto, não podia deixar o assunto morrer.
— Ele parece ser um rapaz muito simpático, filha — comentou ela, com um olhar afetuoso, enquanto ajeitava o chapéu que protegia seu rosto do sol.
— Sim, ele é — respondeu Stella, tentando soar casual enquanto passavam por uma fonte antiga cercada de flores bem cuidadas. — É sempre bom conhecer gente nova, né?
— E parece ter um bom coração — Dona Inês acrescentou, com um sorriso acolhedor. — Você não acha?
Stella apenas sorriu, desviando o olhar para as árvores ao redor. Não sabia muito sobre Pedro, mas havia algo nele que despertava sua curiosidade e lhe dava uma sensação de paz, uma mudança refrescante comparada ao tumulto emocional que Fernando trazia.
O museu, uma construção imponente de pedra com colunas de mármore, era o próximo destino. Lá dentro, as paredes altas e as luzes suaves criavam um ambiente quase solene. As peças de arte e as antiguidades nas vitrines pareciam contar histórias de tempos passados. Stella tentou se concentrar nas explicações do guia, mas sua mente, teimosa, voltava repetidamente a Pedro. Por que se sentia tão diferente perto dele? Por que parecia mais fácil respirar, mais fácil sorrir quando ele estava por perto? Por que tantos sentimentos com relação a alguém que mal conhece?
Enquanto exploravam as salas do museu, seus pais faziam comentários sobre as exposições, mas Stella apenas respondia com monossílabos, perdida em seus próprios pensamentos. Ela mal percebeu quando o guia terminou o tour e sugeriu que eles fossem até a loja de souvenirs. Quando finalmente saíram do museu, o sol já estava começando a se pôr, tingindo o céu com tons de rosa e laranja.
Quando voltaram para casa no fim do dia, Stella sentiu-se estranhamente cansada, mas também reconfortada. A companhia de seus pais, o passeio leve e descontraído, e o encontro inesperado com Pedro fizeram-na sentir-se mais viva do que sentia há meses.
Mais tarde, enquanto preparava o jantar, picando legumes e mexendo panelas, Dona Inês apareceu na cozinha, com aquele olhar maternal cheio de significado.
— Sabe, querida, às vezes a gente precisa parar um pouco para perceber o que realmente importa. Você tem trabalhado tanto… Espero que esses dias de folga te façam bem. — Dona Inês falava com um tom de voz suave, enquanto pegava alguns pratos para colocar na mesa.
Stella parou o que estava fazendo e olhou para sua mãe, sentindo os olhos marejarem levemente.
— Você está certa, mãe. Eu precisava disso. De vocês aqui. De… pensar um pouco em outras coisas além do trabalho.
Dona Inês sorriu, se aproximou e envolveu Stella em um abraço apertado, daqueles que só mães sabem dar.
— E quem sabe também pensar em você, no que você quer de verdade para a sua vida.
Stella respirou fundo, sentindo o cheiro do perfume suave de sua mãe. Não sabia exatamente o que queria ainda, mas estava começando a entender que precisava de algo mais do que trabalho, status e relacionamentos vazios. Precisava de significado. Precisava se encontrar. E, quem sabe, encontrar um amor que fosse mais do que apenas uma conveniência.
Depois do jantar, Dona Inês agilmente arrumou a cozinha. Stella sentou com seus pais no sofá para assistirem a um filme juntos. O ambiente era iluminado apenas pela luz suave da televisão. Stella sentiu seu corpo relaxar encostado no sofá e respirou fundo, quando percebeu seu celular vibrar. Era uma mensagem de Pedro.
“Foi bom te encontrar hoje. Espero que possamos marcar algo de verdade da próxima vez. Boa noite!”
Ela sorriu ao ler a mensagem. Seu coração acelerou. Respondendo rapidamente, ela digitou:
“Foi bom te ver também! Vamos marcar sim. Boa noite, Pedro.”
Com o coração mais leve, Stella se preparou para dormir. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que talvez estivesse no caminho certo para algo novo, algo melhor. E mal podia esperar para descobrir o que mais o destino tinha reservado para ela. Enquanto fechava os olhos, uma sensação de esperança tomou conta de seu coração, como se, finalmente, ela estivesse encontrando seu verdadeiro caminho.