Capítulo 4

Mais uma segunda-feira havia chegado. Stella sentia que aquela semana seria diferente. Seus pais estavam prestes a chegar de viagem, e ela os buscaria à noite no aeroporto. Estava feliz por tê-los em sua casa por alguns dias. Seria uma semana de descanso e de um respiro para sua alma tão sobrecarregada.

Ao longo da tarde, seu celular vibrou diversas vezes, mas Stella estava ocupada no trabalho e, como de costume, ignorou as mensagens. Quando chegou em casa, no início da noite, jogou a bolsa no sofá, trocou de roupa e foi até a cozinha beber um copo d’água antes de finalmente pegar o celular. Desbloqueou a tela e começou a rolar pelas notificações. Mensagens de amigos, grupos, nada fora do comum. Mas uma delas fez seu coração disparar. Era de Fernando.

“Oi Stellinha! Como está sua semana?”

Stella franziu a testa. Aquele apelido tão carinhoso, Stellinha, sempre a fazia sentir algo. Mas desta vez, ao invés da habitual ansiedade boa, veio um misto de irritação e desconfiança. 

Por que Fernando sempre reaparecia nas segundas-feiras? Passava o fim de semana se divertindo sabe-se lá com quem, para depois procurá-la, durante a semana, como se ela fosse uma segunda opção. Aquele padrão de comportamento já havia sido identificado por ela há tempos, mas uma parte de seu coração ainda ansiava por vê-lo. Havia uma pontinha de esperança, bem lá no fundo, de que um dia ele a surpreenderia, pedindo-lhe para assumir algo sério. Talvez um namoro, ou quem sabe, até mesmo casamento? Stella suspirou. Ela sabia que era uma ilusão.

Mas naquela semana, a situação era diferente. Com seus pais em casa, Fernando estava fora de cogitação. Não deixaria que ele, com seu desejo superficial e interesseiro, atrapalhasse aquele momento de paz em família. Ela precisava de mais do que ele estava disposto a oferecer. E sabia disso, mesmo que fosse difícil admitir.

Respirou fundo e digitou com determinação:

“Oi Fernando. Essa semana estarei com visitas. Beijos.”

Stella olhou para a tela do celular por um instante, avaliando sua própria resposta. Era seca, objetiva. Bem diferente das respostas educadas e receptivas que costumava dar. Sorriu para si mesma. Havia algo libertador naquela resposta. Pela primeira vez, ela o estava dispensando de verdade. A sensação de alívio que tomou conta dela foi tão grande que por um momento, ela quase esqueceu da mensagem que havia enviado. Era como se tivesse dado um passo gigantesco para longe das amarras que a prendiam a alguém que, no fundo, nunca a valorizou de verdade.

No entanto, nem tudo em sua vida estava resolvido. Uma inquietação silenciosa se instalava em seu peito, uma sensação de que faltava algo. Talvez fosse o cansaço de correr tanto e não sentir que estava chegando a lugar nenhum.

“Será que largar tudo seria uma solução?”, ela se perguntava às vezes. Mas logo descartava a ideia. Impossível. A solução teria que ser outra, talvez encontrar um equilíbrio, ajustar as coisas. 

No entanto, algumas pequenas mudanças já haviam sido feitas. Stella havia decidido que não faria mais horas extras, que precisava caminhar mais e, naquela semana em especial, as caminhadas diárias no parque estavam sendo na companhia dos pais. A presença deles ajudava a acalmar seu espírito, mas também lhe dava tempo para pensar mais profundamente sobre sua vida. 

Na terça-feira, Fernando respondeu. Ele perguntou quando ela estaria livre. Aquilo a deixou intrigada. Era raro ele demonstrar qualquer interesse além do habitual, e agora, de repente, ele parecia mais interessado do que nunca. Stella se viu dividida. Por um lado, queria responder e marcar um encontro. Por outro, sabia que seria uma armadilha emocional. Desenvolver algo sério com Fernando era pura ilusão, e seu coração já tinha sido machucado o suficiente.

Ao invés de marcar algo com ele, Stella continuou a passar suas noites em paz, caminhando com seus pais e saboreando as refeições caseiras que sua mãe preparava com tanto carinho. Cada noite parecia uma pequena cura para as feridas internas que Fernando havia aberto. Com seus pais por perto, ela sentia uma proteção emocional que não sentia havia muito tempo. Estava começando a gostar dessa leveza.

Na quarta-feira, Stella tomou uma decisão ousada, algo que nem ela mesma esperava fazer. Depois de pensar por alguns minutos, resolveu pedir um dia de folga no trabalho. No meio da manhã, foi até a sala de Cristina, sua chefe.

_Cristina, eu gostaria de pedir um dia de folga – disse, entrando diretamente no assunto.

Cristina a olhou por cima dos óculos com um misto de surpresa e curiosidade.

_Stella, tá tudo bem? Você nunca pede folga – Cristina comentou, estudando o rosto da funcionária com desconfiança.

_Está tudo bem, mas realmente estou precisando de um tempo. Só um dia – respondeu Stella, tentando manter o tom neutro.

Cristina franziu o cenho. 

_Você sabe que estamos numa semana crítica, e você é essencial aqui.

_Se preferir, pode descontar o dia do meu salário – sugeriu Stella, numa atitude que surpreendeu até a si mesma. Nunca havia cogitado perder dinheiro em troca de tempo, mas agora parecia um preço pequeno a pagar pela tranquilidade que precisava.

Após alguns segundos de silêncio, Cristina suspirou e concordou.

_Você pode tirar sua folga. Mas espero que isso não se torne frequente.

Stella agradeceu com um sorriso discreto. Sabia que havia vencido uma pequena batalha interna.

Seus pais estavam encantados com os detalhes do lugar, fotografando cada canto, enquanto Stella observava a arquitetura em silêncio. “Como nunca parei para visitar este lugar antes?” – pensava, admirando a beleza do lugar. 

Estava imersa em seus pensamentos quando um som de vozes ecoando pela catedral chamou sua atenção. Ela olhou na direção do som e viu um padre conversando com um homem. Algo no homem parecia familiar.

De repente, seu coração deu um solavanco. Era Pedro.

Ela ficou paralisada por alguns segundos, incapaz de processar o que estava vendo. A voz da mãe a trouxe de volta à realidade, mas o som também fez Pedro olhar em sua direção. Quando ele a viu, seu rosto se iluminou em um sorriso. Ele falou algo rapidamente ao padre e, em seguida, caminhou até ela.

_Olha quem está aqui! – disse ele, com aquele sorriso largo que Stella conhecia bem.

_Que coincidência, de novo! – respondeu ela, tentando disfarçar o nervosismo com uma risada.

_Eu não me lembro de ter visto você por aqui antes… – ele comentou, com uma leve provocação na voz.

_Ah, eu vim trazer meus pais. Eles queriam muito conhecer a catedral – explicou ela, sentindo-se estranhamente exposta.

Pedro a olhou por alguns instantes antes de responder.

_Olha, isso é uma evolução. Quer dizer que você tirou uma folga do trabalho.

Stella riu.

_Sim. Fazia muito tempo que eu não tirava uma folga. E fazia muito tempo que eu não entrava numa igreja – confessou ela, olhando ao redor mais uma vez, como se tentasse absorver aquele lugar.

Pedro assentiu, mas não disse nada. Havia algo no ar entre eles, uma tensão silenciosa que nem um dos dois conseguia decifrar. Stella não sabia o que pensar daquilo. Encontrá-lo ali era a última coisa que ela esperava.

_Bom – disse ela, tentando quebrar o silêncio – vou continuar o passeio com os meus turistas. Ainda vamos visitar o museu.

_Eu espero que vocês tenham um ótimo passeio – respondeu ele, com um sorriso – Mas, olha, já chega de coincidências. Da próxima vez, vamos combinar de verdade.

Stella riu, aliviada pela leveza no tom dele.

_Ótimo. Vamos combinar.

Pedro tirou o celular do bolso e pediu seu número. Ela passou sem hesitar, e ele logo deu um toque para que ela salvasse o número dele também.

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