Há poucas décadas, a sociedade vivia muito mais alheia aos ensinamentos católicos. Muitos de nós eram os tão famosos “católicos de IBGE”. Até pouco tempo atrás, a maioria das mulheres usava contraceptivos e os casais não faziam ideia do que era a fecundidade matrimonial, paternidade responsável e abertura à vida, mesmo tendo se casado na Igreja.
A internet, com as redes sociais, youtube e outras plataformas, tem sido um excelente instrumento de evangelização, por meio do qual uma imensa quantidade de pessoas se deparou com os ensinamentos da Igreja, se aproximou de Deus, e inclusive mudou de vida. Muitos casais que antes só moravam juntos, decidiram por buscar os sacramentos e se abrir aos filhos. A quantidade de conversões no nosso país tem sido consideravelmente grande, e isso é uma grande bênção!
Entretanto, aonde está o homem, também está o pecado. Ninguém está imune a ele. Imaculada, somente a Virgem Maria! E nesse sentido, surgem as discórdias e intrigas dentro do meio católico, fomentadas, ao meu ver, pela confusão, mas principalmente pela soberba, pela vaidade, e até mesmo pela ganância. Isso se reflete na maneira como certas questões são discutidas nas redes, gerando polarizações e mal-entendidos entre os próprios católicos.
Com a disseminação das ideias feministas, houve uma distorção do papel da mulher na sociedade e até mesmo na família. Durante décadas, essa ideologia incentivou as mulheres a deixarem seus lares, controlarem a natalidade (vendo-a como um defeito a ser silenciado), evitarem filhos (como se fossem doença), buscarem igualdade com os homens em termos de funções e papéis, e se lançarem no mercado de trabalho, muitas vezes à custa de suas famílias. Em resposta, surgiu nas redes sociais um movimento forte de resgate da feminilidade, encorajando as mulheres a voltarem para os seus lares e a cuidarem mais de seus filhos, conforme sua vocação natural, tão bem exposta e explicada por Santa Teresa Benedita da Cruz (filósofa alemã também conhecida por Edith Stein).
O feminismo gerou crises não apenas nos casamentos, como nas próprias identidades de homem e mulher, afinal de contas não são apenas as mulheres que se perderam em seus papéis: os homens passam por uma grave crise de masculinidade. Não são raros os casos de homens que objetificam as mulheres, que não assumem os filhos que geram, que não assumem as contas de casa, que não assumem a responsabilidade pela educação de seus próprios filhos. Ao que me parece, vivemos em uma geração em que os adultos ainda não saíram (e nem querem sair!) da adolescência.
Nesse contexto, o incentivo gerado nas redes sociais, nos últimos anos, para que as mulheres voltem aos seus lares e assumam com mais completude a sua maternidade, acaba por também incentivar o homem a assumir mais e melhor o seu próprio papel de esposo e pai.
Mas, obviamente, nem sempre as coisas são expostas da forma correta, assim como nem sempre são bem compreendidas nas redes sociais. O fato é que a evangelização online é necessária. Dizer, agora, que incentivar uma maior presença das mulheres em casa foi um erro pode ser perigoso, pois pode se assemelhar a discursos feministas que não ajudam as mulheres a saíram da confusão, e nem mesmo os homens a saírem da crise de masculinidade em que se encontram. Da mesma forma, ressaltar, agora, que falar em abertura à vida nas redes sociais foi um erro, pode ser um discurso que se assemelha perigosamente ao discurso feminista.
Eu já comentei o quanto o discurso do “fique rico” pode ser perigoso (embora não haja absolutamente nada errado em buscar pelo justo fruto do seu trabalho, e mesmo a riqueza pode ser vivida de forma correta e virtuosa, sem apego). Também já comentei sobre o quanto a imagem da pessoa virtuosa com sua vida perfeita também pode ser prejudicial. Da mesma forma, obviamente, o discurso da abertura à vida sem a exposição correta dos ensinamentos da Igreja acerca da paternidade responsável também pode gerar problemas. Será que não é possível encontrar o ponto certo da evangelização, sem pecar pela imagem de perfeição, e sem se assemelhar aos discursos feministas que são tão nocivos?
Ao meu ver, tem, sim, como encontrar esse ponto. É só ter bom senso, buscando retidão de intenção e rezando para que a caridade seja o principal motivador de seus atos, de sua evangelização, e do seu trabalho na internet; além, é claro, de cuidar pra não pecar por vaidade e soberba.
Eu continuo defendendo a ideia de que as mulheres devem, sim, ter a possibilidade de passar mais tempo com seus filhos, acompanhando de perto o desenvolvimento deles. Também defendo a ideia de que o homem, por ter autoridade dada por Deus de ser o chefe e o cabeça do lar, deve ser o principal (oxalá o único) provedor da família. Mas também defendo que a mulher trabalhe para auxiliar na renda que sua família precisa, se este é o caso, e também defendo que a mulher busque cumprir uma vocação particular que Deus tenha lhe dado, sem que isso prejudique sua vocação primeira e natural, que é a de ser esposa e mãe.
As coisas são simples, mas a confusão gerada pelo feminismo é tão grande que eu até consigo compreender que, agora, buscando o caminho certo, também nos deparemos com confusões. Por isso mesmo, apesar de nossas falhas, devemos nos unir na evangelização, pois as intrigas, motivadas muitas vezes por vaidade e soberba, podem gerar mais confusão e inclusive prejudicar a imagem da própria Igreja.