Já falamos sobre o quão abominável foi o que o terapeuta fez com as mulheres que atendeu. O que ele fez foi gravíssimo e não deve ser atenuado. Mas tem mais coisas que precisam ser ditas.
Podemos dizer que esse caso do terapeuta é mais um escândalo da igreja, embora tenha sido com um leigo. Os escândalos geram esse efeito de afastar as pessoas de Deus, e os inimigos da igreja usam os escândalos pra generalizar e dizer que a igreja é má e que todos os católicos são hipócritas.
A evangelização precisa acontecer também na internet. Até poucos anos atrás, muita gente não conhecia nada da doutrina para o casamento, não sabiam nada sobre fecundidade matrimonial, e estavam imersas em contraceptivos e ideias feministas.
Com o crescimento das redes sociais, pessoas começaram a compartilhar o que aprenderam sobre fé e doutrina, e também começaram a compartilhar um pouco de suas vidas. Muitas pessoas mudaram de vida, se aproximaram de Deus e da igreja, por causa do que foram aprendendo na internet.
Nós não podemos generalizar e assumir que todos os católicos são hipócritas, como se não houvesse quem fizesse um bom apostolado por aqui. Vamos lembrar do que ensina o Concílio Vaticano II sobre o protagonismo dos leigos. Existe muita gente séria, comprometida, bem formada e com muita experiência de evangelização, fazendo um excelente trabalho na internet.
Infelizmente temos visto também católicos se voltando contra outros católicos. Parece que estamos assistindo a uma batalha sobre quem tem a verdade “mais verdadeira”, ou quem “falou primeiro”. Pode ser que o objetivo primário, que deve ser a evangelização e a caridade, acabe aos poucos sendo substituído pela busca por realizações pessoais (vaidade, status, dinheiro). Essa batalha não é boa para a evangelização, nem para a Igreja, nem para ninguém.
Nesse sentido, infelizmente o marketing digital incentiva a que todos “fiquem ricos”. Muitos acabaram caindo na ideia de criar um produto de si mesmo, e sustentar uma imagem que lhe permita sua venda, e com isso acaba gerando problemas na vida de outras pessoas. Há um sem-número de cursos sobre as mais diversas temáticas, oferecidos muitas vezes por quem tem pouca experiência no assunto, ou ainda, outros cursos oferecidos por valores absurdamente elevados. O objetivo, que antes era levar um pouco de fé e doutrina para as pessoas, em muitos casos mudou para “ficar rico”.
Com isso, estou falando que é errado trabalhar na internet? NÃO, desde que feito com responsabilidade, coerência, caridade e senso de justiça, especialmente para quem é católico.
Tem também a outra questão ultimamente levantada por muitos: a aparente vida perfeita de pessoas “repletas de virtudes” tem gerado problemas para os consumidores de conteúdo. Já comentei aqui que nós, enquanto consumidores de conteúdo, precisamos nos conscientizar de que não existe vida perfeita, e que o que aparece aqui nas redes são apenas recortes. E enquanto produtores de conteúdo, precisamos ter responsabilidade com o quê compartilhamos, para não gerar essa imagem distorcida de perfeição, que pode ser nociva especialmente para aqueles que estão começando a aprender e começando a buscar por virtudes.
Mas outro ponto importante nessa história toda é: não podemos generalizar. Há gente passando imagem de perfeição, há gente sacana e desonesta, mas também há gente séria e comprometida por aqui. Se generalizamos, corremos o risco de prejudicar o processo de evangelização que acontece na internet, que tem gerado muitos bons frutos, e inclusive prejudicar a imagem da própria Igreja.
Vamos cuidar com o uso das redes, compartilhando e consumindo conteúdos com responsabilidade; seguindo e acompanhando pessoas sérias (poucas, de preferência), e – por que não? – com experiência, seja de vida, seja no âmbito profissional, seja na evangelização; não expondo a família e a rotina excessivamente (são coisas de foro íntimo que devem ser preservadas); não confiando tão facilmente em pessoas que conhecemos apenas virtualmente (lembrando que aqui as pessoas só mostram o lado bom e bonito); não priorizando ou até endeusando uma imagem pessoal e material (muitas vezes criada forçadamente) em detrimento da verdade, da honestidade, da justiça, do valor da vida simples.
Que Deus ajude a todos nós!